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Mostrando postagens de 2019

CALL ME

call me e me acalme

Telepatia

Telepatia: eu também sinto muito.

dos princípios

teorizo que o princípio do crescimento seja reconhecer que há certas coisas irresistíveis, contra as quais - numa redundância - a melhor resposta é o agir-passivo, não agir. a gente começa a se auto-tutelar, processo lento, instável: assumir um risco em frente a um mundo de gente para quem a sua revolução, volta-esforço-equilíbrio, pouco tem efeito, reconhecendo que o seu próprio mundo teve de se montar, desmontar - se sustentar para tal feito. para além disso, o princípio te exige reconhecer o que lhe é legítimo, ainda que a consequência seja um dano emergente, pois é partindo desta constatação que tu não te moverás de ti - ESSA É A FONTE PARA O EQUILÍBRIO. mais: o crescer se pauta no conhecimento daquilo que, dentro de ti, deve ou não prescrever. o princípio cobra que tu estabeleças parâmetros, de deixar morrer e de deixar viver, do permitido e do proibido, ficar e ir embora. o princípio do crescer dá sentido a um ordenamento próprio, o ego-teu-seu-nosso, o ser. torná-lo pétreo é esf

agarro

Um agarra-dedo, Dedo-mão, mão no ombro, Braço longo Envolto em mim. Eu agarro, Tu agarras, Enlaçamos os minutos assim. Pernas abraçadas, Agarro com queixo, Agarras com o peito, A nuca te beijo E jamais desejo o fim: Infinito é o momento Que seu agarro Ao meu responde "sim".

Frida e Diego

Cabeça alinhada ao peito. Meu peito. O coração pulsando quase que diretamente no seu ouvido - quase porque há pele, músculos, separando um do outro - num ritmo de espaçada calmaria. Minha mão dança nas suas costas, dedos brincam entres os fios grossos, negros, que contrastam com a brancura deste rosto. E tá tudo bem, bem. As pernas em flor, desabrochadas, o corpo no meio, peso, cheiro e tato. Na infinitude desses minutos, a gente se sintoniza e eu me transporto para o lugar de bem querer que cola pelo e peito, boca e coxa, braço e tronco. Entre os laços dos meus próprios braços eu me sinto pequena. Mas não é sinônimo de fragilidade nem um ser desproporcional. Eu completo o quadro e, junto a sua medida, grande, balanceio a emoção. Um retrato bonito no espelho do elevador, na minha cabeça: Frida pintando a si e a ele. "Frieda e Diego Rivera".

da desilusão ou do desapego

gostoso quebrar a cara, amassar as prepotências. um ego que se declara tão centrado peca em sua incoerência, assumindo gestos alheios como grandes demonstrações e dizendo, sem rodeios, que outros vivem em engraçadas ilusões. ah, me é cara essa quebra: queima a língua debochada, arde como gelo que afirmei, envenena no riso proclamado. espero do mundo apenas deslembrança; de mim, aprendizado.

meio termo

o equilíbrio entre os tudos e nadas, o momento presente - contemplativo - vazio entre o ser e o vir a ser. uma pancada forte, desnorteadora. e me deu vontade de telefonar, de dizer que estou com saudades, pois o tempo parecia infinitamente pequeno pra persistir nas pontas, na extremidade restritiva do agir. e o "me equilibrar" era pensar em cada abraço, mandar um áudio para a vovó, começar uma conversa com quem guarda em comum nada além de uma dor incomoda de coração partido no meio de um pico de serotonina. eu ando na corda entre a entrega desmedida e a contenção milimetricamente planejada e isto é dizer que talvez eu queria conversar depois contigo, que mamãe tá certa e que o tempo tá passando. escolher e abdicar, não é perder - um deixar fluir inevitável. deliciosamente inevitável, inevitavelmente fluído e por fim, começo. o outro desequilibrado precisamente compensado, ou melhor, complementando, o eu que também pende. pendurada num nada, com o tudo pra me segurar.

Jornada antropofágica da heroína solitária ou solitária da antropofágica

O caminho é longo e cada passo à frente faz a trilha mais solitária. E dói. Dói pelas baixas - reduzem-se os companheiros, aumenta a solidão - e pela sensação constante, quase como aquele zumbido incômodo no ouvido, sirene ininterrupta, de não saber para onde se vai. Mas não é muito como se fossem-me dadas opções, oras bolas, só tem um sentido, não tem como voltar, NEM TENTE DAR RÉ, e dizer ser possível andar mais para a esquerda ou para a direita é exagero. A caminhada é desconfortável principalmente por ser inevitável: não há como fugir. E nesse processo passam dias, semanas, meses. De novo: dias-semanas-meses. Mais um fica pra trás, mais espaço vazio. Nada, nada mesmo, indica o destino. Para onde que eu tô indo? Pontada no peito. Joelho fraco, bambo e chão. Os outros não sumiram, só dimuiram e penetraram ao peito. Como pesa, Senhor, como pesa! Mas já não me sinto tão só. Dá vontade de olhar pra trás, não posso, sigo, cabeça reta, pescoço tenso. Pesa. Como pesa. Parece que tem algo e

Buraco Negro

Era como se, subitamente, as coisas ficassem desinteressantes. Como se a visão perdesse a capacidade de foco e o que até então irradiava cor se tornasse preto e branco - diria até que sem uma zona cinzenta, capaz de gerar curiosidade ou atenção. A perda do sentido não tornava invisível, mas irrelevante. Dizer que pouco importava seria mentir. Não importava, e não o fazia ao ponto de nem a negação ser afirmada. E com isso a memória, pouco a pouco, a memória também se desfazia. Sumia a lembrança dos feitos, presentes, surpresas e decepções - existência, no passado e presente, alienada. Ou perdida? A anestesia virara extinção. Um nebuloso incômodo, tão escondido quanto inexistente, impedia de saber se era pai ou homem qualquer. Já não sabia do que se tratava, só que doía na cabeça de vez em quando. Um ponto de vácuo, sem matéria, que palpitava do lado esquerdo e sugava qualquer recordação.

Descompromissado

Amanheceu ao meu lado Com aqueles olhos de cetim, Sorrindo sem abrir as janelas. Consigo preserva a entrada da alma Enquanto eu observo, Me perdendo e encontrando Entre todas aquelas constelações- Agrupamentos já familiares- Incontável quantidade De pontos referenciais. Irradia entre nós a estrela oculta, Aquecendo por breve vida Sem certezas de que no outro dia Tudo estará ali, em combustão. Nasce e respira, sorri sem ver. Imaginativamente, beijo-lhe as pestanas Na esperança do despertar Que situe esse olhar no meu. Meu sonho é leve Seu sono, pesado, A órbita dos seus astros tem cor de verão. O movimento celeste muda o tempo.

música da paixão - ou votos do presente

Ela cresceu em mim Sem saber pra onde ir E tomou todo o espaço do meu peito Ela cresceu em mim Transformou o que pode vir Num enredo clichê Chegue perto para ver Que eu já não sinto mais o mesmo E soltei todos os pesos Quando peguei na sua mão E não Não me vejo em outros tempos Quero estar em seu momento O presente, abraço, Sem direção

virada

É madrugada em Pinheiros E a cidade se divide No silêncio da metade que dorme, No riso da que vive. Nós dois no meio, Acordados a meia luz, Abajur laranja do lado, Nessa cor é meio engraçado. Engraçado, não: interessante. E a nossa sombra me é tão instigante Quanto o reflexo na janela. Meu peso; Sua perna. A gente enrosca, encosta e troca, Te dou um sorriso pra disfarçar a minha (pouca) destreza, O tempo passa num quadro vivo. Eu gosto de te ver assim, Despido, De vergonha e refletindo afeto O cheiro, a pele, o calor. Tudo quente sem cobertor, A parede é fria. Laço os braços em seu pescoço E tá tudo gostoso, bem. Um por do sol na madrugada: O jovem também precisa descansar.

Celestine

De junho de 2018 A vida é curta. Um grão de pó na escala do tempo, difícil de dimensionar. A vida é curta para o mundo, e naturalmente nos acostumamos com ela, inconscientemente enxergamos-na eternola, sem hora de acabar. Então se morre. A morte é curta, mais rápida do que a vida, numa ambígua sensação. Quem morre morre. Passa num piscar de olhos, sem as dores da vida, num milésimo de segundo para alívio sem fim. Quem fica sofre. Foi rápido demais. Porque foi assim? A vida é curta, tem hora marcada. E quem vive esquece que as todas as coisas são assim. Num momento, um sol se pondo, lindo, laranja, vivo, quente. Então a noite. Azul. Fria.

Telescópio

É curioso se utilizar de um telescópio. Você espera o momento certo, ajeita a lente, prepara tudo pra olhar pro céu e, misteriosamente, o céu te olha de volta. Ele te devolve o olhar interessado e curioso, te abraça com um brilho que aquece o corpo e o espírito. É como um flerte, uma resposta íntima. O céu pisca uma estrela e a gente no telescópio fica até envergonhado. Ruboriza e se fascina com cada detalhe recém descoberto por um novo ajuste de foco. Opaca é a vida quando o céu não te olha de volta. Já troquei de lente e telescópio, mas não é para mim que ele reluz.

Revisitando aquilo que parece morto já faz tempo

Faz muito tempo que não escrevo, prova disso é a data da postagem que se encontra logo abaixo. E sou honesta quando digo "escrever" e não "postar", porque de fato produzi muito pouco nos tempos (nem-tão) recentes (assim). Mas acontece que deu saudades - saudades de sentar e pensar numa boa alegoria, de ser lida e comentada pelos amigos, de olhar pro texto e pensar "até que bem desenvolvi". Não é uma falta do sentimento que inspirava poemas sentimentalmente - e não falo com desprezo - adolescentes, mas sim um vazio geral de inspiração e de reação. É bom e estranho revisitar esse lugar que parecia morto, me reler, observar passado o tempo o que daquilo que foi escrito ainda faz sentido. É pouca coisa, mas cada texto no seu tempo. Escrever hoje ainda me parece persistir num equívoco do passado, ao mesmo tempo em que também é retomar uma parte minha da qual sinto saudades. Não me comprometo com a volta. (Essa pequena ponderação é dedicada a minha amiga S