Buraco Negro

Era como se, subitamente, as coisas ficassem desinteressantes. Como se a visão perdesse a capacidade de foco e o que até então irradiava cor se tornasse preto e branco - diria até que sem uma zona cinzenta, capaz de gerar curiosidade ou atenção. A perda do sentido não tornava invisível, mas irrelevante. Dizer que pouco importava seria mentir. Não importava, e não o fazia ao ponto de nem a negação ser afirmada. E com isso a memória, pouco a pouco, a memória também se desfazia. Sumia a lembrança dos feitos, presentes, surpresas e decepções - existência, no passado e presente, alienada. Ou perdida? A anestesia virara extinção. Um nebuloso incômodo, tão escondido quanto inexistente, impedia de saber se era pai ou homem qualquer. Já não sabia do que se tratava, só que doía na cabeça de vez em quando. Um ponto de vácuo, sem matéria, que palpitava do lado esquerdo e sugava qualquer recordação.

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