Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2016
a depressão é líquida, não tem forma própria. se apropria de um corpo recipiente, se encaixa e às vezes transborda. às vezes evapora.  a depressão é líquida e tem corpo de chão. e fica a mancha, um certo peso, a gente pensa que é o azar de um carimbo pra diferenciação. a depressão varia, em volume e pressão, escapando casualmente por algum furo ou infiltrando o coração. às vezes silenciosa, às vezes não. às vezes em grito, às vezes no colchão. a depressão afoga e não deixa respirar. e quando não se respira o mundo a volta parece que não sabe girar.

o gosto

menina, sei teu gosto pelo visível oposto do teu eu cê gosta da pele canela do cabelo castanho e de sorrisos doce-mel menina, sei teu gosto por essas moças meio capim de alma fresca e livre e olhos verdes ou algo assim menina, eu bem queria que cê gostasse mais de mim desse meu branco fosco e do poema tosco que é para você e fim.
eu quero não sentir medo de ter medo, e realmente achar que amor remonta e vai remontar o que ficou de ti. eu mantive muita coisa, só que não tô sabendo guardar, lidar, expor e impor. olha, eu nunca me vi tão sem saber, e não ache que isso foi graças a você. E é claro que eu guardo, lido, exponho e imponho o desnecessário. não sei o que é preciso. imprecisão é a palavra do momento, e acho que devo-lhe desculpas, mas também as devo a mim, pois não me permito as doses certas e nem as erradas à você.

combinado (às vezes) sai caro

a gente acertou tudo, papel passado, para ninguém ficar mal. pena que o papel é santo e nos limitamos ao final.

história inundada

há um tempo o mundo inteiro parecia ter assumido chuva como um bom sinal. limpeza, recomeço. pu-ri-fi-ca-ção. gota por gota, um alívio, um suspiro, que umedeceria a terra num plano constante de fertilidade e rendimento. os dias bons eram os de altos níveis pluviométricos, com lágrimas esperançosas de um céu azul. mas aí o choro não parou, ficou gotejando sem cansar, enchendo, alagando, trans-bor-dan-do, e a sinalização de sorte virou presságio de morte. dilúvio. a-f-o-g-a-m-e-n-t-o. e nem eu, nem você, sabíamos nadar. o nível foi subindo, subindo e subindo. morri afogada e a água parou antes do seu nariz.

tempo de emoção

das coisas que perdi no meio do caminho, a pontualidade é a que mais tem me feito falta. adio tudo pro limite, para o último segundo. e não é nem que falta tempo, falta um monte de coisa, e o tempo que tá tendo eu não uso pra nada. não quero nada. eu não sei o que quero. tic-tac, tic-tac, eu queria conversar, mas até você eu adiei. tic-tac, tic-tac, vai ver eu deixo tudo assim pra sentir alguma emoção.
lembrei que esqueci e aí esqueci que lembrei não tava a fim não tava em mim morreu. abriu no peito aquele buraco negro e depois de explodir de meio mundo sentir colidiu não ficou nada. acordei do sonho e sonhei acordada estava tudo diferente indiferentemente mudado e era solidão.