Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2016

carta ao escuro (no feminino)

o meu calar para com a escuridão não é no intuito de a provocar ou de fingir que não existe, é um silêncio que vem como verdade, para condizer, antes de mais nada, com o barulho que fica aqui no peito. o silêncio é a dúvida, não a ignorância. é a falta de desejo, oriunda de cansaço, não de repugnância. se não falo com a escuridão é por algum respeito que me resta: de não desejar o que não se sente, de não insistir no limite, meu e dela, que possa clarear em explosões. o silêncio no escuro nada mais é do que a paciência ao que espero, e não, como dizem as péssimas línguas, a desistência do que foi. uma hora a visão se acostuma com a falta de luz. quem ira julgar os olhos pela demora?
se seguir em frente é perdoar, então eu perdoei. se perdoar é seguir em frente, então me sinto parada. estou em outro dilema, humanidade. outro dilema derivado daquele mesmo assunto. minhas verdades já soam questionáveis. o mesmo vale para meu coração. acho que um não anula o outro: o não existir mais nada não significa que deixei de perdoar, significa que recomecei. é difícil recomeçar quando já se tem um a história. perdoar é esquecer? se nada falo, b, é porque já não faz sentido. talvez nunca tivesse tido sentido em si próprio. e aí eu me enganei, aí eu cometi vossos erros e falhei na minha própria palavra. não acho que é pra ser difícil, mas tá sendo. darei tempo ao tempo, e se me arrepender, depois corro atrás.

companheiro

Não, companheiro, Não vamos embora! Pois já estamos a saber Que um dia, de tanto gritar, Alguém há de responder. É preciso persistência, Esperança, Luta pelo sonho igual. Sonho igual de criança: Longe da dor, da miséria E do mal. Não, companheiro, Não vamos embora! Ainda há muito o que fazer! Nosso grito em uníssono Ainda irá vencer! Que a justiça nos venha, Fazer igualdade florescer, Numa primavera vermelha, Com o povo no poder! Não, companheiro, Não vamos embora! Não podemos temer! Queremos uma nova História, Que todos possam ler.

desgosto

esse teu desgosto explicita-se em minha companhia, estampando pior semblante e congelando-me com fitada fria. depois finge desmancho num universo virtual, para um público seleto que vê tudo, menos mal. é que não é planejado, é teu instinto, natural. política-da-boa-vizinhança: tolera aqui, não no mundo real. já julguei hipocrisia, da mesma que vi em mim. agora não julgo mais nada, a razão é toda sua, só concordei com o fim. que fique então a minha verdade: daqui pra frente eu mesma assumo, começo por dizer que odeio a caridade e não atrapalharei teu rumo. eu não vou porque não quero, mentir não é meu forte. se voltou tão fácil pro zero é porque num teve suporte.

déjà vu

se eu contasse para um eu-passado todo o enredo desse drama, é possível que não acreditasse, que julgasse um exagero. a verdade é que não existem exageros, existem pontos de vista, e até então, isso eu não compreendia. os sentimentos são um fado geral, ninguém escapa. a intensidade porém, é singular, parcial, única. as situações se repetem, numa brincadeira do tempo, que só inverte os papéis. e cada ator interpreta à sua moda, à sua voz e ao seu corpo. aquele mesmo roteiro, em outra temporada. um déjà vu. até que alguém resolve improvisar, decide arriscar e modifica a estória. como lidar com o inesperado? na platéia ninguém sabe que o final não era esse..

carta para a.

carta para a. em algum momento dessa história, depois do corpo queimar inteiro, numa metamorfose à-moda-fênix, a gente vira campo magnético, dos mais fortes e se vê com os pés no chão. não negativamente, a gente ainda sonha, ainda sofre, ainda ri, só que agora sabe onde se encontra e o motivo de estar ali. parece meio bobo, mas é a melhor fixação: essa do eu-em-mim, independente de tantos outros que parecem roubar o chão. o campo atrai e comprova que tudo -TUDO- pode mudar, é opção. os sentimentos ganhos novos significados, e depois disso até a poesia muda a escanção.

respeito

e agora eu penso que talvez o presente (momento e eu) caminhe lado a lado com a falta de noção. talvez, de todos os remédios, não deveria ter cortado a dose de se-man-col. é estranho ao observador? é ousado? maquiavelicamente planejado? uma situação infeliz? se a impressão do público é o que importa quem sou eu sendo assim? dizem que me falta respeito pelo histórico e educação no contemporâneo: apareço do nada e saio da mesma forma, entre uma reforma e uma revolução. mudei remédios e cabeça, o corpo está mais tolerante. mas a quem? quem o droga? quem o acalma? só sei eu e nem entendo. a parcialidade dos sentidos e sentimentos não parece justa, chega a soar cruel. se pedir, eu me retiro, sem questionar os motivos, justiça feita para teu mundo mel.
periodicamente se faz ínfimo e infinito, escorregando no atrito de uma crise existencial. às vezes eu esqueço, adormeço e ignoro, outras, em falta pereço, procuro e memórias afloro.
nessa noite, morena, até a Lua vestiu vermelho queimando a raiva, a ira, o ódio de um azul constante e blasé. não, esse céu não reconhece que a beleza é do teu brilho, ele se acha, se impõe só por ser menino. ah, morena, queime junto à Lua! não deixe que ele se prolongue, que brinque com intensidade tua. o horizonte é um conjunto, não permita que te escondam. se o céu mudar o assunto, ilumine-se até que te respondam.
eu quando fui ela vi no mundo os sinais era a música no rádio a poesia de parede o tarot-já-decorado a chuva de repente parecia conspiração eu respirava e fazia toda a relação eram sonhos de verdade e verdades de ilusão o Universo perseguia numa piada inteira com a mente em tudo eu via o que peito prende
não foi preciso a traição das palavras: eu mesma me traí. e não foi maquiavélico, mas de uma inocência como de criança. eu não tomei nenhuma precaução e afirmei para todos os ventos uma jura que já dói por ser mentira. (na época não era). o sentimento se travestiu de cartomante e me fiz fiel à suas previsões. tolice, faltou-me o básico de sensatez, algo que comprovasse a teoria. trai-me por essa reza, esse clamor de tanta importância. no castanho distante sentia o gosto da saudade. foi uma overdose, um delírio, que me compromete alguma responsabilidade. cativei em mim e agora enraizou no peito. quem diria que o compromisso iria de ser um fardo? eu me importo, guardo alguma honra e há quem diga, muito afeto. não hei de prometer mais zelo algum, essa cautela excessiva puxou o tapete.

piada

essa piada já não tem graça, por mais que a lembrança seja feliz. é que ficou tudo morno com o tempo, aquele morno de almoço preguiçoso no micro-ondas, frio no meio, mas que você come mesmo assim, só para não esperar mais um minuto. a graça da piada não chega nos próximos segundos. às vezes parece que a graça nunca existiu. era só outro prato meio morno, pra alimentar a fome de riso do estômago vazio. estômago vazio e cérebro vadio, tão necessitado de atenção que se sujeita as piores anedotas em busca da mais sutil liberação de serotonina. de nada adianta, o meio quente esfria no meio do consumo. e aí fica chato, e-n-t-e-d-i-a-n-t-e, sem sal. outra piada barata pra ouvir em outra reunião de família.