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Mostrando postagens de setembro, 2016

poesia vive

o mais bonito de tudo isso, zé, é que a poesia vive, ela não morreu com você. ela tá dolorida, um pouco ácida e um pouco ambígua, mas tá batendo no peito, sobrevivendo. eu que achei que a enterrara junto aos meus fados sobre você, me enganei. ela está despedaçada, um pouco atordoada, mas ao todo tá bem. e o louco disso, zé, sabe o que é? não tô afim de a entregar a mais ninguém (além de mim).

dizem que as flores roxas..

O que faz com que esse jardim, Da garganta a orelha, Tenha flores brotando? Flores roxas por abelhas Que te picam em um mel De sabores e amores. Teu verde não é fel, E o roxo não são dores.
eu não sou uma boa pessoa nem digna de céu nem digna de inferno eu não sou uma pessoa boa gosto das estacas zero dos desmanches, dos planos arquitetados e da fortuna constante meus olhos são venenos a língua, soro com cura, onde vê a alma? nada aqui é coisa pura
eu tô num momento de experiências revolucionárias, de provar o comprovado, conhecer o conhecido e continuar o continuado. experiências desconhecidas. eu tô gritando gritos, arriscando o risco e envelhecendo o velho. experiências novas. tô circulando os círculos, rindo risos e mudando o mudado. experiências imutáveis. tô calando o silêncio, sobrando as sobras e ventando os ventos.

conversa animal

desculpa aí, mas esse bate-papo me soou mais forçado do que jacaré quando ri. foi mais estranho que preguiça impaciente, mais bizarro que rebanho desobediente, mais anacrônico que borboleta querendo casulo, mais destoante que cameleão albino.
eu estava sonhando e sonhei com o dilema. um questionamento dolorido, mas de fundamental importância. amor se desfaz? no sonho eu não consegui falar as três palavras, eu fui embora sentindo falta, mas sabendo que havia acabado.

churrasco

no final a brasa nem ardeu, nem queimou, nem corroeu. eu saí quase ilesa, sobrevivendo novo dia, com alma meio fria e cabeça meio quente. vai ver a vida dá resistência ao calor para quem viveu. eu anoiteci na fornalha, e se alguém morreu não fui eu.

bandeira

ao conquistar território, erguei a bandeira, estampando, em meio a insegurança, o que entender por vitória. hasteai a flâmula para que todos saibam e para que ninguém duvide de suas capacidades e nem ultrapasse seus cercados e requerimentos. ilustrai com pano colorido, de verde shakespeariano, vermelho profano e amarelo nauseado, que és a mais nova potência: embarcando num vício desgastante de falar o desinteressante para ver se aos outros compensa.
pareceu-me, ao fim do dia, que chien errant agora carregava ao peito uma coleira, com identificação de uma vida nem-tão-desamarrada assim.
eu não acredito que alguém nessa Terra carregue na cabeça auréolas, mas tô pra afirmar que todos carregamos alguma coisa e há quem carregue grandes setas de LED, vermelhas, verdes com risquinhos amarelos, na intenção de se afirmar para o resto do Universo. é como se o que cada um tivesse sob a cabeça falasse, um pouco, sobre quem é e o que sente naquele momento. eu acho que tenho carregado uma nuvem cinza que esconde todo um Sol, e acho que tens carregados um título de posse para que ninguém mencione alguma alforria. desnecessário.

Spring Wishes

em respeito aos sons do silêncio transmito ao inverno-momento os desejos de estação: um céu que amanheça azul, um sol que aqueça o corpo nu, a chuva para purificar, o vento para a mágoa levar, nuvens brancas, com paz proteger, um gramado para o tempo correr, árvores, para sombra dar, flores, que perfumem sem perceber, cisnes que enfeitem o ar dessa nova primavera que há de chegar.

Marilyn Monroe

noutra volta da Terra, rebobinando a fita do toca-fitas, quis cantar, talvez a mais simplória das canções, fazendo jus não somente a versão de ouro de Monroe, mas também a toda a vontade que sentia no momento. e cantei. cantarolei no maior intuito de sedução, com aquele desajeito de principiante, mas com tanto gosto que confesso: deve ter sido um sucesso. de certo foi ensaiado, pensado e antes de tamanha apresentação, posto em teste com outras platéias. mas naquele dia era o espetáculo, no íntimo de um mundo que só cabia ao presidente. no devaneio o pijama recém amanhecido era o vestido dourado, e fone, teu ouvido. sei-lá-quantas-luas-depois, o auditório abriu de novo, para sei-lá-que-novas-canções. tocai o velho áudio, como nostalgia de todas as boas coisas já desejadas ao anfitrião.
esse contrato só ilustra a linha tênue entre o que se deseja e o que permeia as (in)decisões. autentica-se para a própria segurança, não pelo outro, mas por receio de si. meu bem, a negação já afirma a possibilidade, e não existe acordo que discorde disso aí. é paradoxal até que alguém interrompa. quem terá a coragem de dizer ao próximo que o que chama de loucura é, na verdade, lucidez?

tem mais coisa aí

eu não entendo contratos e não entendo seus fins. por qual razão se autentica uma certeza se essa já é certa? que confiança é essa que precisa estar descrita (e escrita) para que não seja quebrada? será que os acordos funcionam mais como auto-motivações para manter a palavra? quero dizer, somos tão inseguros ao ponto de fazer um tratado não para ter a parte do outro assegurada, mas para nos asseguraremos de nós mesmos?