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Mostrando postagens de setembro, 2019

meio termo

o equilíbrio entre os tudos e nadas, o momento presente - contemplativo - vazio entre o ser e o vir a ser. uma pancada forte, desnorteadora. e me deu vontade de telefonar, de dizer que estou com saudades, pois o tempo parecia infinitamente pequeno pra persistir nas pontas, na extremidade restritiva do agir. e o "me equilibrar" era pensar em cada abraço, mandar um áudio para a vovó, começar uma conversa com quem guarda em comum nada além de uma dor incomoda de coração partido no meio de um pico de serotonina. eu ando na corda entre a entrega desmedida e a contenção milimetricamente planejada e isto é dizer que talvez eu queria conversar depois contigo, que mamãe tá certa e que o tempo tá passando. escolher e abdicar, não é perder - um deixar fluir inevitável. deliciosamente inevitável, inevitavelmente fluído e por fim, começo. o outro desequilibrado precisamente compensado, ou melhor, complementando, o eu que também pende. pendurada num nada, com o tudo pra me segurar.

Jornada antropofágica da heroína solitária ou solitária da antropofágica

O caminho é longo e cada passo à frente faz a trilha mais solitária. E dói. Dói pelas baixas - reduzem-se os companheiros, aumenta a solidão - e pela sensação constante, quase como aquele zumbido incômodo no ouvido, sirene ininterrupta, de não saber para onde se vai. Mas não é muito como se fossem-me dadas opções, oras bolas, só tem um sentido, não tem como voltar, NEM TENTE DAR RÉ, e dizer ser possível andar mais para a esquerda ou para a direita é exagero. A caminhada é desconfortável principalmente por ser inevitável: não há como fugir. E nesse processo passam dias, semanas, meses. De novo: dias-semanas-meses. Mais um fica pra trás, mais espaço vazio. Nada, nada mesmo, indica o destino. Para onde que eu tô indo? Pontada no peito. Joelho fraco, bambo e chão. Os outros não sumiram, só dimuiram e penetraram ao peito. Como pesa, Senhor, como pesa! Mas já não me sinto tão só. Dá vontade de olhar pra trás, não posso, sigo, cabeça reta, pescoço tenso. Pesa. Como pesa. Parece que tem algo e

Buraco Negro

Era como se, subitamente, as coisas ficassem desinteressantes. Como se a visão perdesse a capacidade de foco e o que até então irradiava cor se tornasse preto e branco - diria até que sem uma zona cinzenta, capaz de gerar curiosidade ou atenção. A perda do sentido não tornava invisível, mas irrelevante. Dizer que pouco importava seria mentir. Não importava, e não o fazia ao ponto de nem a negação ser afirmada. E com isso a memória, pouco a pouco, a memória também se desfazia. Sumia a lembrança dos feitos, presentes, surpresas e decepções - existência, no passado e presente, alienada. Ou perdida? A anestesia virara extinção. Um nebuloso incômodo, tão escondido quanto inexistente, impedia de saber se era pai ou homem qualquer. Já não sabia do que se tratava, só que doía na cabeça de vez em quando. Um ponto de vácuo, sem matéria, que palpitava do lado esquerdo e sugava qualquer recordação.

Descompromissado

Amanheceu ao meu lado Com aqueles olhos de cetim, Sorrindo sem abrir as janelas. Consigo preserva a entrada da alma Enquanto eu observo, Me perdendo e encontrando Entre todas aquelas constelações- Agrupamentos já familiares- Incontável quantidade De pontos referenciais. Irradia entre nós a estrela oculta, Aquecendo por breve vida Sem certezas de que no outro dia Tudo estará ali, em combustão. Nasce e respira, sorri sem ver. Imaginativamente, beijo-lhe as pestanas Na esperança do despertar Que situe esse olhar no meu. Meu sonho é leve Seu sono, pesado, A órbita dos seus astros tem cor de verão. O movimento celeste muda o tempo.

música da paixão - ou votos do presente

Ela cresceu em mim Sem saber pra onde ir E tomou todo o espaço do meu peito Ela cresceu em mim Transformou o que pode vir Num enredo clichê Chegue perto para ver Que eu já não sinto mais o mesmo E soltei todos os pesos Quando peguei na sua mão E não Não me vejo em outros tempos Quero estar em seu momento O presente, abraço, Sem direção