Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2016

ano novo celta

na cabeça, cigarro. nicotina deixando zonza. o estômago embrulhado, meio sem nada, dolorido. os olhos, cansados, de Capitu e ambíguos. a memória, falhando, acho que não foi comigo.

silêncio barulhento

é incômoda essa comodidade de só falar cantando, cumprimentar olhando e debater em silêncio. é um barulho mudo de sons surdos sem o menor sentido e aí você se informa, na implícita norma, e descobre que tá tudo bem. que bom que eu tô bem sem. quem sabe se no próximo ano não evoluiremos para gestos? aprendo LIBRAS por engano e você completa versos.

nós

nós somos as problemáticas, as que morrem de ansiedade, que envelhecem sem ter idade por estresse e conspiração. as loucas, de tédio e dúvida que já nem sabem o que querem por querer o que já não se tem. as dissimuladas que adiam guerra por esperar que tudo se acerte, na facada ou no flerte pra descansar o coração.

a pimentinha

elis foi dos embalos de primeiro amor, numa selecta trilha sonora de (e para os) inesquecíveis. fiz de sua voz um momento presente, deixando-a sujeita ao desaparecimento no meu próprio ouvido caso o mundo conhecido viesse a explodir. quase explodiu e daí toda vez que tocava eu me sentia n-a-u-s-e-a-d-a, bêbada numa corda bamba erguida há meses de altura do passado, bancando a equilibrista pra sobreviver no presente. sobrevivi. vivi. uma lembrança que me deixas louca. deixava. elis continuou exilada, o mar não era uma gota pra secar assim. e então voltou do nada, em dois minutos de fascinação num trailer sobre ela mesma. que bom, elis voltara a pura, num encanto e fascinação de causar arrepios. ela por ela. e eu assim também. https://m.youtube.com/watch?v=x9ALHKzWFT8

just in time

olha só que coincidência! apareceu todo mundo just in time! just before se tornasse estranho, desastroso e estrondoso. just in time. que sorte a nossa, né?
reguei teu jardim com lágrimas salgadas e sorrisos ácidos e fui embora, deixando o tempo passar até que essa terra de nada mais valesse. levei comigo tudo, a enxada, a semente, o regador. só o solo ficou, por ser teu.

não tinha nuvem pra segurar

ferveu. em Celsius, Fahrenheit e Kelvin. ferveu tanto que num pranto assim, desses de inundar, se mostrou volátil e não hesitou em evaporar. ferveu. não tinha mais céu pra segurar. ferveu. nem nuvem pra marca deixar. ferveu. o que prometia fertilidade secou. morreu. tava tão árido que nem sei se doeu.
numa era de bombardeio e overdose em redes sociais, a melhor coisa que eu fiz foi ter dessainado o vosso amor. Assim eu não compartilho tristeza e não permito que curtam a minha solidão.

mayara

Mayara era uma das minhas melhores amigas no começo da infância. Brincávamos muito e conversávamos sobre assuntos que cabem a pessoas-velhas-de-sete-anos. A gente gostava das mesmas coisas, mas de forma diferente: Em Scooby-Doo ela revezava o papel de Salsicha ou Scooby com a Alline (a outra melhor amiga) enquanto eu alimentava a minha donzelice sendo a Daphne. Passamos 3 anos juntas, numa época que ainda não se tem noção de tempo, e então ela teve de se mudar. Foi minha primeira despedida, e rendeu choros em cima de uma foto nossa na formatura do pré. Até os 11 mantivemos o contato-anual, comparecendo a todos os aniversários e brincando com o mesmo fôlego inicial. E então a gente cresceu. Crescer trouxe consigo o desaprender das antigas brincadeiras, as novas vidas e prioridades, os "outros" assuntos e as outras personalidades. De repente, Mayara e eu já não nos conhecíamos e nisso havia uma certa comodidade. Nosso contato seguiu rumo a modernidade, matando a saudade em

esse aqui é desconexo

esse aqui é sobre o choro que sucumbiu no tempo num voluntariado cabresto de quem se viu doer sem solução. é sobre o vazio que se sente, ardente à moda água, que queima por ser nada e hidrata a solidão. esse aqui é sobre as falhas, o que inclui essa minha de querer dançar a alma quando se estagna a sina. é sobre o não existir, da possível improbabilidade, que quanto mais se bate menos se percebe.